Artigo 'Direct conversion of fibroblasts to functional neurons by defined factors', na 'Nature' (Foto: Nature / reprodução)
Pesquisadores afirmaram n ter transformado células comuns da pele diretamente em neurônios, sem necessidade de manipulação de células-tronco. A descoberta tem potencial para acelerar muito o campo da medicina regenerativa.
A experiência abre a perspectiva de que um dia seja possível retirar uma amostra da pele de um paciente para transformar as células em um tecido sob medida para transplantes no tratamento de doenças cerebrais, como os males de Parkinson e Alzheimer, ou para a cura de lesões de coluna.
"Este estudo é um enorme salto à frente", disse Irving Weissman, diretor do Instituto para a Biologia da Célula-Tronco e da Medicina Regenerativa na Universidade Stanford, na Califórnia, onde o trabalho foi feito e patenteado.
Trabalhos anteriores com células-tronco em ratos puderam ser repetidos em humanos em questão de meses.
Os especialistas também esperam reprogramar células comuns para transformá-las em outros tipos de células, de modo a ajudar na substituição de fígados deteriorados e no tratamento de doenças como diabete e câncer.
Resultado surpreendente
"Induzimos ativa e diretamente um tipo de célula para se tornar um tipo completamente diferente de célula", disse Marius Wernig, da Universidade Stanford, que dirigiu o estudo. "São neurônios totalmente funcionais. Eles podem fazer todas as coisas principais que os neurônios fazem no cérebro".
Wernig se disse surpreso com o sucesso do trabalho. Cientistas achavam até então que era necessário fazer as células regredirem a um estágio mais primitivo antes que elas pudessem mudar de direção.
"Para ser muito honesto, eu não tinha certeza de que iria funcionar. Foi um desses projetos de alto risco e alta recompensa", disse Wernig por telefone. "Funcionou, na verdade relativamente rápido".
A equipe já está tentando fazer o mesmo com células humanas, mas Wernig disse que nesse caso parece ser um pouco mais complicado.
Genes que 'mandam'
Nos últimos anos, os cientistas também conseguiram fazer células cutâneas regredirem para um estágio semelhante ao das células-tronco, quando são chamadas de células-tronco pluripotentes induzidas.
A nova experiência pula todas essas fase intermediária e, embora não signifique de imediato que não há necessidade do uso de células-tronco embrionárias, ela sugere que há um caminho para evitá-las.
Um problema das novas células é que elas não proliferam bem em laboratório e não vivem tanto quanto as células-tronco primitivas. Mas Wernig disse acreditar que será possível transformar as células cutâneas em todos os outros tipos.
"É preciso apenas encontrar o coquetel de transcrição correto, e você poderá transformar qualquer coisa que quiser em qualquer (outra) coisa que quiser", disse Wernig.
Fatores de transcrição são genes que dizem o que outros genes têm de fazer. Cada célula no organismo contém todo o mapa do DNA, ou genoma, mas só determinados genes operam em certas células.